quarta-feira, 2 de abril de 2014

Unidade XVI: O Imperialismo e o Neocolonialismo no século XIX


O IMPERIALISMO E O NEOCOLONIALISMO NO SÉCULO XIX

     Com o advento da Revolução Industrial no final do século XVIII, teve início um processo de dominação econômica, política e cultural das nações economicamente mais poderosas sobre as áreas sabidamente mais frágeis economicamente como as da Ásia e as da África. Essa dominação caracterizou o imperialismo e o neocolonialismo do século XIX.
     O processo de dominação exercida pelos europeus na África e Ásia, dos norte americanos  na Ásia, no Caribe e América Central e dos japoneses na Ásia, deu origem aos modelos neocolonialistas como:
- Colônias de Enraizamento. Nelas o dominador promoveu uma expropriação quase que total das populações nativas e as transformou em força de trabalho assalariada nas atividades da extração mineral e na produção agrícola de exportação. As populações nativas foram instaladas em algumas áreas denominadas reservas;
- Colônias de Enquadramento. Nelas o colonizador promoveu uma expropriação parcial dos nativos. Entretanto, também os utilizou como força de trabalho assalariada;
- Protetorados. Nesse modelo o dominador promove uma intervenção militar, que se mantém duradoura. No protetorado o interventor não ocupava o poder nacional, deixando-o nas mãos dos dirigentes locais, mas não permitindo a plena soberania no exercício dessa autoridade;
- Áreas de Influência. Nelas a dominação não é presencial, o controle se faz pela dependência econômica e financeira, através de investimentos e de empréstimos geradores do endividamento.
     Nesse processo de dominação neocolonialista, os europeus se valeram de duas estratégias: a Diplomacia do Canhão e do Fuzil ou da Canhoneira e a Ação dos Missionários, representantes das Igrejas do Ocidente, que atuaram como pontas de lança da ação imperialista e da invasão cultural.
     Vale destacar, que no avanço do europeu sobre o continente africano, ele procurou revestir a ação de natureza econômica, em que buscava áreas para investimento de capitais na exploração das reservas minerais e na produção agrícola de exportação com base na Plantation, numa ação de cunho civilizador, filantrópico, humanitário sob o argumento de estar alí para promover a civilização das comunidades tribais, retirá-las do primitivismo e do canibalismo. Como diria Kipling em seu poema, este era o fardo do homem branco.
   
A Segunda Revolução Industrial

     Com a utilização do petróleo e seus derivados e da eletricidade como novas fontes de energia e com a descoberta do aço como matéria prima, por volta de 1850, teve início a segunda revolução industrial. Com ela desenvolveram-se novas tecnologias, novas máquinas e novos setores da produção entraram em atividades como: o metalúrgico, o de transporte, o petroquímico, o elétrico entre outros. A partir daí houve a constituição de grandes unidades industriais, criação dos  trustes e das holdings, ou seja, um processo de concentração de empresas e/ou de capitais e da formação do capitalismo industrial e financeiro.
     Com essa indiscutível modernização dos setores produtivos, se impôs a necessidade de obtenção de novos mercados para a transferência de capitais, que fossem  fornecedores de matérias primas e de energia e também  consumidores de produtos industrializados. Na primeira metade do século XIX, o interesse capitalista voltou-se para o continente asiático, em particular sobre a China, a Índia e o Japão.


O break-up da China (1842-1885)

     Ao longo desses pouco mais de quarenta anos, a China passou por um processo de perdas territoriais, de perda de soberania, de invasão cultural, que fez desaparecer o gigantesco império que incluía além da China atual, a Indochina, as Coreias, a Manchúria Russa e a Ilha de Formosa era o break-up. 
Essas perdas decorreram da assinatura de diversos tratados bilaterais e desiguais, que contemplaram os interesses estrangeiros sobre o Império. Tratado de Nanquim com os ingleses, Tratado de Pequim com os franceses, Tratado de Aigum com os russos e Tratado de Shimonoseki com os japoneses. 

A Guerra do Ópio e o início do break-up.

     Entre 1840 e 1842 ocorreu a Guerra do Ópio entre os ingleses e o Império Chinês. Este conflito decorreu da apreensão pelas autoridades chinesas de um navio britânico que transportava ópio para ser vendido no porto de Cantão e da prisão dos tripulantes de nacionalidade britânica, fato considerado pelo governo de Londres como um ato de hostilidade promovido pelo governo imperial. Um episódio de natureza policial foi transformado pelos britânicos como um ato de agressão diplomática, o que deu início a guerra de 1840.
     A vitória inglesa deu início ao processo de perdas territoriais e econômicas sofridas pelo Império e de concessões políticas atendendo as exigências das forças imperialistas estrangeiras.
     Em relação a esta guerra, a China assinou com os ingleses o Tratado de Nanquim, pelo qual cedeu a Ilha de Hong Kong (esta ficou sob controle britânico até 1997), comprometeu-se a abrir portos, admitir a livre circulação de produtos no país e aceitar o princípio da extraterritorialidade para os cidadãos britânicos.
     Em 1860 o Império assinou dois outros tratados: o de Pequim com os franceses e o de Aigum com os russos, que implicaram a perda da Indochina para a França e de parte da Manchúria para os russos. Além disso, atendendo as exigências francesas, a China abriu outros portos e permitiu a livre circulação dos missionários pelo país.
     Em 1995, após a guerra contra o Japão, os chineses assinaram o Tratado de Shimonoseky no qual perderam o controle da região das atuais Coreias e da Ilha de Formosa.


                                       O movimento nacionalista chinês

     Ao longo do período da influência estrangeira sobre a China, organizou-se no país um movimento de resistência formado por alguns setores da sociedade, que elegeu o governo imperial como seu principal alvo, por considerá-lo corrompido pelos interesses internacionais e, portanto, conivente com a dominação estrangeira sobre a China.
     Assim organizaram-se: a Revolta dos Tai-Pings, a Revolta ou Guerra dos Boxers e, por último, o kuomintang (o partido do povo ou Frente Nacionalista), este, pelo fato de ser um movimento nacional, foi responsável por derrubar a monarquia em 1910 e instalar a República Nacionalista da China em 1911 presidida por Sun-Yat-Sen.

(Caderno de anotações de aula. Professor Luis Francisco)

O Protetorado britânico na Índia (1859-1947)

     Em 1857 uma revolta deflagrada pelos Sipaios contra os ingleses, deu a estes a justificativa para promoverem uma intervenção militar, cujo resultado foi a criação do protetorado britânico naquele país.
     Essa revolta manifestou o descontentamento dos Sipaios com os ingleses, cuja presença na Índia através da Companhia das Índias Orientais, que era responsável pelo comércio feito entre os britânicos e os indianos, era vista como uma invasão cultural e os hindus reclamavam contra o fato dos ingleses não respeitarem o animal sagrado dos hindus, a Mãe Vaca. Isto porque os ingleses alimentavam-se da carne do animal e usavam um subproduto, o sebo, para lubrificar suas armas. Os Sipaios hindus, que atuavam como soldados da Companhia de Comércio Inglesa, manuseavam uma cera obtida da gordura de origem bovina para a lubrificação dos cartuchos das armas, que portavam. A Revolta foi sufocada pelo exército britânico, que abriu caminho para a instalação do protetorado. Havia também entre os Sipaios muçulmanos o descontentamento pelo fato de os ingleses os obrigarem a manusear uma cera (para a lubrificação da arma que utilizavam como soldados da Companhia de Comércio Inglesa) feita da gordura do porco, um animal que os muçulmanos consideram sujo e se recusam a comer sua carne ou utilizarem produtos derivados do animal. A Revolta dos Sipaios é considerada por alguns historiadores como sendo uma primeira luta de independência da Índia e teve na figura de Mangal Panday a sua principal liderança. Na repressão aos Sipaios, o Reino Unido capturou e condenou Mangal à morte por enforcamento.
     O protetorado é uma forma de dominação presencial, que o interventor, neste caso o inglês, mantém as autoridades locais exercendo o poder, mas, sem fazê-lo com a plena soberania. O Estado do Reino Unido nomeou um Vice Rei para representa-lo na Índia, ele ficava na região de Deli. Ao mesmo tempo, nos chamados territórios principescos, os ingleses permitiam que o poder fosse exercido pelos Marajás, pelos Rajás e pelos Nababos, mas todos subordinados à autoridade do Vice-Rei.

O Japão, um caso particular.

     Em 1854 o Japão sofreu uma intervenção promovida pelos norte-americanos, através de uma esquadra comandada pelo Comodoro Matheus Perry. A presença norte americana resultou na assinatura do Tratado de Kanasawa, que promoveu a abertura dos portos japoneses.
     Na década de 1860 foi a vez dos ingleses entrarem no Japão. Os britânicos foram responsáveis por importantes mudanças na ordem política e econômica naquele país. 
     Em parceria com o Micado (imperador), os britânicos esmagaram o Xogunato (regime político em que o Xogum era a maior autoridade apoiado no exército dos samurais) e promoveram a centralização do poder nas mãos do imperador. Além disso, deram todo o apoio financeiro e tecnológico para que o Micado promovesse a modernização japonesa, o que ficou conhecida como Era Meiji, que transformou o Japão num país industrializado e expansionista dentro da própria Ásia. O Imperador atuou de forma hábil nessa modernização, enviando jovens japoneses para estudarem no Ocidente, para posteriormente, no retorno ao Japão, eles transfeririam o conhecimento acumulado para o progresso nipônico. Chama a atenção o fato de que na Era Meiji ter sido criada a burguesia japonesa, beneficiada pela industrialização fomentada pelo Estado. Dessa forma foram sendo constituídos os Zaibatsus, ou seja, os grandes grupos econômicos oriundos das tradicionais famílias como: Aiko, Toshiba, Toyota, Yamaha e outras.
     Vale ressaltar que a cooperação britânica não pode ser considerada como um gesto de generosidade, porque na verdade os súditos da Rainha Vitória participaram da modernização japonesa (Era Meiji) interessados em transformar o país oriental e um aliado estratégico, para a contenção do expansionismo russo no Pacífico, iniciado após a obtenção da saída pelo Porto de Vladvostock, adquirida com a anexação de parte da Manchúria Chinesa. 
     O Japão após o acelerado processo de industrialização iniciou o seu expansionismo no Sudeste Asiático e no Pacífico. Nesse sentido em 1994/95 promoveu uma ação sobre a China (Guerra Sino-Japonesa) na qual obteve duas áreas de influência, Coreia e Formosa,
     Em 1904/05 o Japão fez a guerra contra a Rússia na disputa por áreas no Pacífico. A vitória japonesa empurrou os russos das ilhas do Pacífico, fazendo-os voltar a Vladvostock, conforme estabelecido no Tratado de Portsmouth de 1905.
     

(1870-1914) A partilha da África

     No último quarto do século XIX estendendo-se às vésperas da Primeira Guerra Mundial, processou-se a corrida dos europeus sobre o continente africano. Não era a primeira vez que isso ocorria, a presença de europeus naquele continente se dava desde o século XV com os portugueses, seguidos pelos espanhóis e pelos holandeses nos séculos seguintes.
     No século XIX foi a vez dos ingleses e dos franceses entrarem na África. A corrida desses países se deveu da situação de crise pela qual eles passavam. Em 1873 teve início a primeira crise capitalista de superprodução e que gerou excedente de produtos, de capitais e de trabalhadores. Daí a África ter sido usada como escoadouro para esses excedentes.
     Na década seguinte os italianos e alemães se juntaram aos neocolonizadores do continente africano, depois de concluírem o processo de unificação político-territorial em 1870-1871 e consolidarem o capitalismo.  Entretanto, o quadro com qual se depararam não foi dos melhores, isto porque os britânicos e franceses já haviam estendido seus domínios em grande parte daquele continente, isso provocou um claro desequilíbrio na partilha da África, entre as potências imperialistas. Situação que acirrou as relações entre elas e, sem dúvida alguma, contribuiu para a ocorrência da Primeira Guerra Mundial em 1914.
    
     A presença de novos colonizadores ensejou a convocação de uma reunião de cúpula, o Congresso de Berlim de 1885, com a presença de todos os países com interesse ou possessões na África. O Congresso de Berlim serviu para serem definidas as regras de relacionamento entre os colonizadores e entre esses e os nativos, em particular da chamada África Subsaariana ou Tribal. Entre as deliberações de Berlim tivemos:

1) as áreas já oficialmente ocupadas, não poderiam sofrer uma nova intervenção;
2) ficou proibida a prática da escravidão;
3) os colonizadores ficaram responsáveis pela proteção do nativo;
4) ficou estabelecido o direito de livre navegação no continente, assim como o acesso ao litoral para todos os colonizadores;
5) o território do atual Estado da República Democrática do Congo foi reconhecido como uma propriedade particular do rei Leopoldo I da Bélgica.

Os efeitos da partilha para os africanos e para os europeus
    
     O continente africano ao ser submetido ao domínio estrangeiro sofreu algumas consequências, e entre elas algumas, que perduram até hoje como:
- a expropriação de grande parte das riquezas minerais;
- a destruição da cultura primitiva com a instituição da propriedade privada, da economia de exportação e do trabalho assalariado;
- a criação das fronteiras artificiais que não levaram em conta os tradicionais limites tribais, ora reunindo tribos rivais num único território fomentando a rivalidade entre elas para tirar proveito e submetê-las , ora dividindo tribos irmãs de modo a enfraquecê-las e assim dominá-las. Além disso foi prática dos europeus elegerem algumas tribos como suas parceiras, dando a elas um tratamento diferenciado, colocando-as como classe dirigente o que só contribuiu para que elas pudessem promover uma dizimação de outra ou outras tribos.
     Esse caso é bastante nítido em Ruanda, em que os belgas elegeram a etnia dos Tutsis como uma elite e os levou a promover um controle sobre a etnia dos Hutus.
Entretanto, após a independência os Hutus, como maioria, assumiram o poder e, ao mesmo tempo, houve a formação de milícias armadas, que deflagraram uma ação de extermínio dos Tutsis, provocando um dos maiores genocídios do século XX no continente africano, a Guerra dos Facões, que em cerca de 100 dias vitimou em torno de 900.000 ruandenses ou de Tutsis.


     Para o europeu, o processo da partilha africana, implicou a intensificação das rivalidades entre as tradicionais forças europeias e as forças emergentes recém unificadas, além de provocar a formação de alianças como a ítalo-germânica em 1881 e a franco-britânica em 1904. As rivalidades interimperialistas provocaram além das alianças, uma tensão que as induziu a uma corrida armamentista definindo o que se chamou de paz armada, que precedeu a Grande Guerra de 1914.

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